Novos hábitos, novos espaços

Novos hábitos, novos espaços

Vivemos numa nova Era chamada globalização. A globalização trouxe múltiplas vantagens económicas, tecnológicas, sociais e culturais, gerando trocas entre sociedades e redefinindo a comunicação entre elas.

Recentemente sofremos uma consequência negativa desta globalização, que nos afetou a todos: a pandemia. Esta situação gerou uma série de efeitos em vários âmbitos e, sobretudo, afetou os nossos hábitos diários, criando novas funções nos espaços que habitamos.

No princípio, para nosso próprio cuidado, cuidado dos nossos entes queridos e da sociedade, as atividades que costumávamos realizar em espaços comuns começaram a ser feitas nas nossas casas. Deixámos de ir à escola ou à universidade, ao escritório, ao clube e a espaços apinhados de gente, e o nosso espaço tornou-se uma sala de aula para as crianças, um escritório de trabalho, uma sala de reuniões virtual, um ginásio e muitas outras coisas. Isto obrigou-nos a fazer uma rápida adaptação de todos os espaços e da coexistência familiar.

As casas concebidas com espaços integrais têm sido as mais versáteis e com mais possibilidades de interação satisfatória. A ventilação e o isolamento térmico têm sido um "must" nos espaços para manter a salubridade. Terraços, pátios e varandas tornaram-se protagonistas de momentos de relaxamento, e a tecnologia tem sido a nossa aliada necessária e indispensável para a conectividade em tempo real com o mundo exterior. As pessoas que não tinham Internet em casa tinham de ir a espaços públicos para estar informadas, e a oferta por vezes era reduzida para o volume de utilizadores.

Passado algum tempo, pudemos começar a sair e a reunir-nos em espaços comuns.

Os parques começaram a ser cada vez mais importantes em termos de encontro de pessoas, atividades sociais e recreativas. Começámos a ver bandeiras, balões e mesas coloridas. Uma nova forma de encontros sociais e de utilização dos espaços exteriores começava a crescer. As aulas de Zumba, de corrida e treinos funcionais vieram para os parques para ficar.

Os escritórios, agora disponíveis para receber trabalhadores, perderam a sua importância diária.

Com os nossos novos hábitos, qual é o interesse de estar fisicamente presente todos os dias, se a tecnologia nos acompanha e não há necessidade de deslocações?

As empresas reduziram o seu espaço de escritórios e passaram a considerar o teletrabalho uma nova forma de produção. Foram incutidos dias de reunião ou de encontros onde cada secretária ou escritório pode ter uma utilização casual, dependendo de quem precisa, tendo vários utilizadores. O “coworking” experimental, que surgiu antes da pandemia, ganhou força e afirmou-se.

Vários espaços clássicos sofreram naturalmente alterações e novas funções. Nada é tão estático como antes ou tem uma única função ou utilizador.

Por conseguinte, devemos repensar a conceção dos nossos espaços. Devemos tentar dar uma ampla utilização aos nossos espaços próprios, já que em casa podemos trabalhar, estudar, desfrutar de uma refeição, descansar, entre outras coisas; e devemos gerar versatilidade nos espaços públicos e urbanos — dar lugar às comunidades para várias atividades de lazer, desporto, acesso às tecnologias e, acima de tudo, gerar espaços de encontros sociais.

A adaptabilidade é a capacidade de responder adequadamente às exigências do ambiente, por isso acredito firmemente que a chave para uma nova arquitetura é compreender as necessidades desta nova era e ressignificar os espaços que habitamos.

 

Maria Cecilia Lalla
Arquiteta
Estudos e projetos