Da construção tradicional à construção sustentável: a importância do projeto e da arquitetura bioclimática

Da construção tradicional à construção sustentável: a importância do projeto e da arquitetura bioclimática

A construção civil é uma atividade essencial para a sociedade, contudo é responsável pelo consumo de 40% a 75% da matéria-prima produzida a nível mundial e de 1/3 dos recursos naturais do planeta. Se pensarmos também nos resíduos provenientes da demolição, atribuímos a este setor a maior quantidade de resíduos produzidos mundialmente.

O ciclo de vida de uma construção abrange todas as fases pelas quais passa ao longo do tempo, desde as matérias-primas utilizadas até aos resíduos gerados no fim da sua vida útil. Incluem-se as etapas de Conceção e Planeamento, Projeto, Execução, Comercialização, Uso e Operação, assim como de Manutenção e Requalificação. No final de todo este ciclo temos ainda a etapa de Demolição.

A sustentabilidade, resultado de uma crescente preocupação ambiental e tomada de consciência da escassez dos recursos naturais, assume cada vez mais um papel relevante na nossa sociedade. Procura-se minimizar os efeitos da construção no ambiente, sem prejudicar a natural evolução tecnológica.

Uma construção só pode ser considerada sustentável quando as diversas dimensões do desenvolvimento sustentável – ambiental, económica, social e cultural – são tidas em consideração durante a fase de projeto. Nesta fase, as preocupações principais devem ser a prescrição de materiais sustentáveis, a poupança de água e energia, a maximização da durabilidade dos materiais escolhidos, a redução de custos, a minimização e a reciclagem dos resíduos produzidos, e a garantia da higiene e segurança.

É, neste contexto, também relevante o conceito de arquitetura bioclimática que consiste em conceber edificações com base no clima local com o intuito de proporcionar conforto térmico aproveitando as fontes ambientais, assim como a integração estética ao ambiente circundante. Está inerente a um projeto bioclimático a valorização da dinâmica local e promoção de uma adequada integração, a fomentação de uso eficiente de recursos, a redução do impacte das cargas a nível de valor e toxicidade, o foco no conforto e qualidades ambientais, a promoção da melhor utilização sustentável dos ambientes construídos através da gestão ambiental e da inovação. O projeto bioclimático demonstra também preocupações no que se refere às relações entre a componente ambiental, social, económica e cultural onde se insere.

Nas últimas décadas, têm sido desenvolvidos e aplicados diversos sistemas para avaliação do desempenho ambiental dos edifícios, de entre os quais se destacam o BREEAM do Reino Unido (www.breeam.org), o CASBEE do Japão (https://www.ibec.or.jp/CASBEE/english/) ou o Canadiano SBTool (www.iisbe.org) . Em Portugal, para além da adaptação destes métodos temos o LiderA (www.lidera.info) e o SBtoolPT (www.sbtool-pt.com), ambos de aplicação voluntária e cujas caraterísticas são ajustadas à nossa realidade.

A construção tradicional, que se baseava nos três pilares da competitividade “Custo”, “Tempo” e “Qualidade” vê-se obrigada a evoluir e a considerar também as premissas “Consumo de Recursos”, “Emissões e Saúde” e “Biodiversidade”. Contudo, o processo ainda não está concluído e temos que continuar a trabalhar e a desafiarmo-nos continuamente para criar processos e produtos sustentáveis acrescentando os fatores “Qualidade de Vida e Ambiente Construído”, “Desenvolvimento Economicamente Sustentável” e “Equidade Social /Herança Cultural”.

Artigo elaborado por:
Rita Santos
Engenheira Civil da Riportico